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ImagePsicoterapia auxilia na cura dos transtornos mentais e ajuda a enfrentar as dificuldades emocionais cotidianas.

1. Sofrimento psicológico no cotidiano:

O cotidiano nas cidades tem se tornado cada vez mais exigente para as pessoas. Trânsito congestionado, poluição e barulhos excessivos, horários de pico com milhares de gente nos metrôs e ônibus...

Psicoterapia auxilia na cura dos transtornos mentais e ajuda a enfrentar as dificuldades emocionais cotidianas.

1. Sofrimento psicológico no cotidiano:

O cotidiano nas cidades tem se tornado cada vez mais exigente para as pessoas. Trânsito congestionado, poluição e barulhos excessivos, horários de pico com milhares de gente nos metrôs e ônibus, excesso de cobranças no trabalho, pouco tempo para a família e lazer/diversão, alto custo de vida, baixos salários e desemprego, má alimentação, tudo isso contribui para a diminuição da qualidade de vida e da saúde física e psicológica. E isso é somente um pouco do nosso dia-a-dia, dos milhares de pessoas que buscam (sobre) viver na sociedade de hoje.

O estilo de vida que nós levamos, juntamente com as nossas características peculiares da personalidade, atualmente têm se tornado responsável pela maioria das doenças e dos mal-estares que nos afligem. Hábitos prejudiciais, como o cigarro, o álcool excessivo, as drogas, o sedentarismo e o consumismo em excesso, por exemplo, são conseqüências características da condição de excessivas exigências que as pessoas enfrentam diariamente, que se somam com traços de personalidade negativos para influenciarem nossa saúde e o bem-estar.

O efeito dessas exigências cotidianas e das características da personalidade é uma crescente dificuldade de adaptação às situações diárias, gerando sentimentos de desgaste, cansaço, insônia, desregulação do apetite, ansiedade excessiva e apatia. E, com essas dificuldades, acabamos por nos perceber mais incapazes, perdendo o senso de controle sobre a vida e, por fim, perdendo a auto-estima.

Mas, para piorar, todo o processo não pára por aí. Com o cansaço, o desgaste, a falta de controle e a baixa auto-estima, os relacionamentos começam a serem percebidos como penosos e difíceis. Surgem discussões sem fim, brigas, agressões, maus-tratos, certa insatisfação geral com tudo e todos. Então, os relacionamentos no trabalho ficam prejudicados, o casamento começa a ruir, os filhos parecem ficar sem controle e impossíveis de serem educados. As amizades parecem não mais ajudar e até mesmo incomodam. E tudo parece piorar, piorar, piorar... O namoro fica cansativo, a escola e a faculdade ficam difíceis de acompanhar. E as atividades básicas do dia-a-dia se tornam um peso e uma obrigação insuportáveis.

Esse conjunto de fatores que, no final do dia, geram aquela sensação de mal-estar, é conhecido pelo nome genérico de estresse, termo desenvolvido pelo médico Hans Selye. O estresse, na verdade, é uma reação de esforço de adaptação às dificuldades e situações, mas, seu aspecto negativo, o distresse, é o conjunto dessas sensações que assolam as pessoas diante dos conflitos, das dificuldades e das exigências cotidianas.

Nesses momentos, as pessoas, costumeiramente, não têm a consciência de que precisam procurar ajuda, pois pensam que um simples descanso e umas boas férias podem resolver. Várias vezes já ouvi colegas comentarem: “ah, isso é só estresse, e umas férias vai me ajudar muito!”. Ou seja, se é estresse, não é nada! Um bom feriado, um descanso, um passeio de final de semana resolve!

Porém, essas medidas são paliativas e amenizam o distresse, mas não o resolvem e, quando se menos espera, sentimentos negativos retornam juntamente com todo o quadro de desgaste. E acabam por criar um ciclo de repetições que geram mais e mais sofrimento, até desencadear ou agravar doenças como os transtornos mentais, as cardiovasculares, as ulcerações, a drogadição, as depressões, as compulsões e obsessões etc.

Por outro lado, as características da personalidade, que são em parte genéticas e em parte aprendidas durante o desenvolvimento humano, contribuem para que o sofrimento psicológico se instale e as pessoas desenvolvam dificuldades específicas para enfrentarem ou modificarem as condições de vida. Essas características são responsáveis pela maneira como as pessoas percebem e compreendem o mundo ao seu redor, influenciando diretamente a forma como elas tomam suas atitudes, com base nos seus sentimentos e pensamentos particulares.

Quando são demasiadas negativas, as características da personalidade prejudicam ou impedem que a pessoa desenvolva recursos psicológicos para enfrentar as dificuldades cotidianas. Inclui-se a hostilidade, o mau-humor crônico, as dificuldades de controle dos desejos e impulsos, a confusão emocional, o medo excessivo, a dependência excessiva, e todas as outras características que compõem um quadro de sofrimento e de paralisação diante do desenvolvimento pessoal e da vida em si. Disso decorre aquele sentimento de “estar paralisado”, “estar preso numa situação de vida sem encontrar a saída” e daí podem surgir os estresses e todo o ciclo de adoecimento.

De qualquer forma, o sofrimento psicológico no cotidiano está relacionado com as dificuldades de adaptação às exigências sociais do dia-a-dia, sejam essas exigências relacionadas com o trabalho, com a família, com a vida amorosa e sexual, ou simplesmente as exigências que as pessoas têm consigo próprias, como as autocobranças, as metas individuais, os mais profundos desejos, as vontades, as características da personalidade que influenciam de maneira negativa a vida. O psicólogo James Hillman descreve esses sentimentos de tal forma que a pessoa “já não sente que está dentro de sua própria vida, mas está em algum lugar lá fora, assistindo a ela ou expressando-a em palavras”.

2. Por que psicoterapia?

Não é difícil de chegar à conclusão de que os dias atuais exigem uma condição que está, muitas vezes, além das possibilidades de ser enfrentada sem maiores problemas. Carl Gustav Jung, um psiquiatra suíço, já na década de 40 chamava a atenção para o fato de que a educação psicológica/emocional ainda é utopia nas escolas de base, onde se priorizam o ensino de conteúdos informativos e conteúdos técnicos, deixando de lado o educar enquanto um processo psicológico que envolve sim, o desenvolvimento do pensamento, mas também envolve o desenvolvimento das emoções. Nisso, a educação brasileira é muito falha e os nossos alunos não são bem educados emocionalmente, não aprendendo a lidar com seus medos, desejos, vontade, impulsos e obsessões. Dessa forma, crescem sabendo sobre ciências (matemática, português, geografia, história etc), mas poucos aprimoram suas capacidades psicológicas para enfrentar o mundo, para se desenvolverem e se adaptarem da melhor forma possível às dificuldades do dia-a-dia.

Não basta ter uma boa faculdade, uma boa profissão e um bom currículo. O desenvolvimento psicológico também é necessário para se obter qualidade de vida e o controle sobre seu estilo de vida. Atualmente, no Brasil, as pessoas mais adoecem e morrem por problemas cardiovasculares que estão relacionados diretamente com o estilo de vida, os hábitos e características da personalidade que favorecem ou desencadeiam o estresse negativo, segundo estatísticas da Organização Mundial da Saúde (OMS). Por isso se faz necessário um acompanhamento profissional nos casos em que as dificuldades se tornam uma fonte de sofrimento para as pessoas.

Pois a psicoterapia é um processo cientificamente desenvolvido para promover o desenvolvimento psicológico. É uma forma de ajuda profissional que atua diretamente nos transtornos mentais, como as depressões, pânico, obsessões e compulsões, esquizofrenias etc., facilitando o processo de cura e reabilitação das pessoas acometidas por tais doenças. Ao mesmo tempo, também atua no desenvolvimento das capacidades psicológicas para adaptação aos momentos e situações de vida que envolve o estresse negativo.

A psicoterapia, então, tem sua utilidade tanto para a cura das doenças psicológicas como para o desenvolvimento psicológico para melhor adaptação às circunstâncias negativas da vida. Consiste em um profissional psicólogo que, com base me métodos psicológicos, desenvolve um ambiente acolhedor, sem julgamentos e críticas, um ambiente que facilita a ocorrência de transformações que levam à individualidade, a sermos nós mesmos, segundo o psicólogo James Hillman. Hillman ainda afirma que as pessoas têm “que ser, em primeiro lugar, o que são, ao invés de prosperar num mundo que para eles faz exigências inautênticas”.  

3. A prática da psicoterapia:

Uma das primeiras perguntas que costumeiramente as pessoas me fazem quando lhes explico sobre a psicoterapia é como funciona. E, por incrível que pareça, é a pergunta mais difícil de responder, pois nós psicólogos estamos tão acostumados a explicar o funcionamento da psicoterapia em termos técnicos e tão científicos que, normalmente, as pessoas não estão habituadas a compreendê-los. Tentarei, a seguir, explicar a psicoterapia sem recorrer aos chavões da ciência ou termos muito técnicos, e usarei como guia algumas considerações do psicólogo Carl Rogers.

Didaticamente, podemos compreender o funcionamento da psicoterapia em termos de (a) público-alvo, (b) objetivo, (c) tempo de duração, (d) técnicas de ajuda e (e) embasamento teórico-filosófico.

(a)    Público-avo: a psicoterapia pode ocorrer individualmente, com casais, em grupo e com a família. A decisão de cada tipo depende das necessidades dos clientes, da queixa principal e da disponibilidade de tempo, espaço, condições financeiras de pagamento, por exemplo. Pode ser utilizadas tanto com crianças, quanto adolescentes, adultos e terceira idade e em diferentes fases da vida.

(b)    Objetivo: os objetivos de uma psicoterapia variam conforme a necessidade dos clientes, bem como sua queixa. Se tivermos um cliente sofrendo em função de um quadro de transtorno mental grave, então os objetivos são muito amplos e abrangem todo um processo de reestruturação da vida da pessoa e de sua personalidade, mas se a fonte de seu sofrimento é uma situação focal de vida ameaçadora, então os objetivos podem ser mais limitados e circunscritos à resolução da situação-problema.

(c)    Tempo de duração: a duração da psicoterapia pode ser desde algumas consultas psicológicas até anos. O que define tal duração é uma avaliação global que envolve o nível de sofrimento psicológico, o tipo de transtorno mental, a disponibilidade de tempo e financeira do paciente. As psicoterapias breves são recomendadas para momentos de crises e situações limites como o estresse negativo, em que as pessoas não foram ainda acometidas por um transtorno. Já as psicoterapias de longo prazo são indicadas para os casos em que o sofrimento é muito grande e existe uma dificuldade de personalidade que precisa ser reestruturada de forma aprofundada.

(d)    Técnicas de ajuda: as técnicas de ajuda podem variar conforme o estilo e as orientações teóricas dos psicólogos, mas em sua maioria estão baseadas no ato de narrar e conversar sobre a vida do cliente, suas dificuldades, suas potencialidades etc. O psicólogo toma uma postura de não julgamento e de total aceitação daquilo que o cliente diz, tentando ajudá-lo a explorar melhor seu problema, sua percepção de si mesmo e do outro, sua compreensão, facilitando assim, a expressão de seus sentimentos, vontades e pensamentos, par posterior reavaliação e mudança de atitudes diante da vida. Também podem ser utilizadas técnicas como o desenho, a pintura, o barro, técnicas corporais, imaginativas e de relaxamento, todas com o mesmo objetivo, de facilitar a expressão, a conscientização e a resolução dos conflitos psicológicos, das dores emocionais e dos transtornos mentais.

(e)    Embasamento teórico-filosófico: os psicólogos tendem a adotar alguns referenciais que guiam suas intervenções, suas técnicas e sua visão de mundo sobre o homem. Esses referenciais são denominados de escolas de pensamento e orientam toda a postura do psicólogo, que escolhem quais autores e quais teorias serão aplicadas na psicoterapia. Normalmente esse dado não é tão relevante porque todas as teorias estudam o mesmo princípio básico, de que a ajuda psicológica produz mudanças nas pessoas. Mesmo assim, as pessoas ouvem falar da “psicanálise”, “psicologia junguiana”, psicoterapia cognitivo-comportamental” etc. E, de fato, todas essas teorias ajudam o psicólogo a se orientar diante do cliente e todas, independente do nome, oferecem a ajuda.

Um último aspecto importante é a empatia entre psicólogo e cliente. Apesar dessas orientações técnicas e teóricas, muitas vezes não ocorre uma empatia entre eles, de forma que aí sim a psicoterapia não poderá ser útil. O que eu mais recomendo é escolha de um psicólogo em que o cliente, desde o primeiro contato, se sinta a vontade, com um mínimo de confiança para se deixar ser ajudado e para falar sobre si e sobre suas percepções.

4. Por fim, quando começar?

O acompanhamento psicoterapêutico pode se iniciar em qualquer momento de vida. Pode (e deve) ser procurado para a diminuição do sofrimento psicológico trazido pelos transtornos mentais, para a solução de problemas emocionais e comportamentais cotidianos, para melhorar a qualidade de vida e o bem-estar, para amenizar o sofrimento emocional decorrente de doenças físicas/orgânicas, para efetivamente ajudar o ser humano a enfrentar melhor o desafio do dia-a-dia, buscando a conciliação entre seus sentimentos, suas vontades, suas necessidades, seus pensamentos e as determinações/limitações do ambiente e da sociedade, procurando sempre a melhor adaptação possível a todos esses elementos.

5. Bibliografia:

Hillman, James (1993). Suicídio e alma. Petrópolis: Vozes.

Jung, Carl Gustav (s/d). Modern men in search of a soul. New York: Harcourt.

Organização Mundial da Saúde (2001). A saúde no Brasil. Brasília: OMS.

Selye, Hans (1959). Stress: a tensão da vida. São Paulo: IBRASA.  

Rogers, Carl R. (2005). Psicoterapia e consulta psicológica. São Paulo: Martins Fontes.

Giovanetti, Rodrigo M. e outros (2003). A expressão de conflitos psíquicos em afecções dermatológicas. Psicologia Teoria e Prática, 5(1), 81-96.


Autor: Rodrigo Manoel Giovanetti. CRP 06/69455. Psicólogo, mestre em Saúde Pública, com extensão universitária em Psicologia Junguiana e Técnicas Grupais. É psicólogo associado da clínica CEAAP e trabalha com atendimento a jovens e adultos, com pesquisas clínicas e em saúde coletiva/saúde do trabalhador, além de lecionar em cursos sobre psicoterapia junguiana, jogo de areia e saúde coletiva/saúde do trabalhador.

Contatos: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Página eletrônica: www.rodrigopsi.1500mb.com



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