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O impacto da deficiência no nascimento de uma criança.

Caroline Nóbrega de Almeida 

 

Entende-se que a gravidez é um processo de mudança na vida de um casal. A partir da descoberta da gestação, ambos idealizam um filho “perfeito”, com as melhores características de cada um.

Mas, e se de repente este filho nasce diferente daquilo tudo que foi idealizado ?

De acordo com Bavin (2000, p.19)¹ “ninguém quer ter um filho deficiente”.

 

O nascimento de uma criança com deficiência, representa ter que lidar com um filho diferente daquele que foi planejado e idealizado e altera repentinamente a organização desta família, juntamente com seus sonhos e projetos². Na maioria das vezes os pais não estão preparados para lidar com tal situação, então o nascimento daquele bebê, que era para ser um momento de celebração, passa a ser permeado por uma atmosfera de frustrações, angústias, dúvidas e receio.

 

As primeiras experiências de interação dos pais e familiares com a criança podem ficar comprometidas devido ao impacto e choque produzido pela notícia do diagnóstico, comprometendo o vínculo e aceitação deste bebê ²,³ .

A visibilidade da deficiência, determina o choque inicial à percepção da mesma, e o sentimento de descrença à situação. Quanto mais visível a deficiência, mais imediata será a preocupação e o embaraço resultante³,4.

 

Quando ocorre o nascimento de uma criança com deficiência, autores citam cinco estágios das reações que os pais passam5:

O primeiro estágio é o choque, este causado pelo impacto inicial da notícia. Há presença de choro, comportamento irracional, sentimentos de desamparo e uma ânsia por fugir.

O segundo estágio é a negação/descrença, em que os pais negam que seu filho possua alguma deficiência.

O terceiro estágio, observa-se a presença de sentimentos intensos de tristeza, raiva e ansiedade, sendo o mais comum a tristeza.

O quarto estágio é o de equilíbrio, em que ocorre uma adaptação dos pais, aproximações afetivas do bebê e diminuição do sentimento de ansiedade, aumentando o ajuste à situação e a confiança para cuidar do filho.

E no quinto estágio, ocorre a reorganização; nesta fase os pais lidam com a responsabilidade pelos problemas do bebê e há a reorganização da família.

 

Ter um bebê deficiente é um acontecimento, não há tempo para que os pais preparem-se emocionalmente³. Independente dos estágios em cada um se encontra, de um lado, há uma família lidando com o desconhecido, ansiando por respostas, envergonhados e culpados pela deficiência e questionando o “porque” deste acontecimento; e do outro há um bebê real, com sua singularidade e necessidades, esperando para ser amado e necessitando de cuidados, estes por sua vez, podendo ser de uma maneira diferenciada, demandando maior gasto de tempo e de energia física e psíquica. Então os pais se veem sozinhos nesta situação e “aprendem” a controlar seus sentimentos, aceitando esse novo e “estranho” ser³.  A partir daí, os pais sentem-se desafiados e motivados a batalhar pelo desenvolvimento de seu filho e saem em busca da resolução de problemas².

 

A busca por apoio e ingresso em instituições especializadas, acaba sendo um marco na vida destas famílias, onde encontram profissionais especializados no diagnóstico de seu filho, e a possibilidade de adquirir informações esclarecedoras, além do contato com familiares e indivíduos com o mesmo diagnóstico, possibilitando a troca de experiências e permitindo a expressão de seus sentimentos e dúvidas. 

Sendo assim, tratando-se de casos em que há alguma deficiência, nota-se a importância de um trabalho especializado, preferencialmente uma equipe interdisciplinar que possibilitará melhor relação e integração entre a criança, família e profissionais, aproximando-os das reais necessidades do paciente6 e tendo um acompanhamento detalhado de cada caso, para melhor aproveitamento do processo de reabilitação, observando o indivíduo como um todo, não apenas uma “pessoa com deficiência”, enxergando também suas potencialidades existentes e a serem desenvolvidas.

 

1 - BAVIN, J. (2000). Os problemas dos pais. In: N. R. Finnie (Ed.), O manuseio em casa da criança com paralisia cerebral. São Paulo: Manole, p. 19.

2 - Sá, S. M. P., & Rabinovich, E. P. (2006). Compreendendo a família da criança com deficiência física. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano 16(1), 68-84.

 

3 - BUSCAGLIA, L. Os deficientes e seus pais: Um desafio ao aconselhamento. 4a ed. Rio de Janeiro: Record, 2002.

 

4 IRVIN, N; KLAUS, M.H; KENNEL, J.H. Atendimento aos pais de um bebê com malformação congênita. In: KLAUS, M.H; KENNEL, J.H, Pais/bebê: a formação do apego. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.

 

5 Drotar D, Baskiewicz A, Irvin N, Kennele J, Klaus M. The adaptation of parents to the birth of an infant with a congenital malformation: a hypothetical model. Pediat 1975; 56(5):710-717.     

 

6 Matos E, Pires D.E.P, Campos G.W.S. Relações de trabalho em equipes interdisciplinares: contribuições para a constituição de novas formas de organização do trabalho em saúde. Rev. Bras. de Enferm. 2009; 62(6):863-869. 

 

(*) Caroline Nóbrega de Almeida - Psicóloga - CRP 06/98174 - ABORDAGEM TERAPÊUTICA: Cognitivo Comportamental. Especializanda em Neuropsicologia, curso de extensão em distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e curso de formação em Terapia Cognitivo Comportamental pelos CETCC (Centro de estudos em Terapia Cognitivo Comportamental). Psicóloga na AACD (Associação de assistência a criança deficiente). Realiza atendimentos à crianças e pessoas com deficiência, adolescentes e adultos na CLINICA CEAAP.

 

(**) Artigo originalmente publicado no Portal Mosaico Psicologia