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Somente Amigos: Redes Sociais, Ciúme e Psicologia Evolutiva... ou "Me Add?"

João Paulo Correia Lima(*)

  

Uma das características do mundo contemporâneo, sem dúvida, é a grande oportunidade de contatos sociais entre os sexos. Não só escolas "mistas" ou "co-educação" (sim, a educação já foi separada: escolas só de meninas e meninos, coisas assim), até o ensino superior, trabalho e até forças armadas. Sem contar com a imensa possibilidade de redes sociais. Com tantas possibilidades de se ter contatos e amizades inter-gêneros, uma pergunta que muitos se fazem ou nos trazem, é: "homens e mulheres podem ser somente amigos?"

Aqui alguns dados para refletirem. Na verdade, não é um tema muito estudado, mas a psicóloga April Bleske e associados realizaram uma pesquisa - hoje já um clássico - muito interessante sobre esse tema (BLESKE-RECHEK, 2001).

 Obviamente partimos do suposto de que todo contato social é enriquecedor e é base da nossa vida. Sem distinção de gênero. Mas, como a própria natureza da relação entre os sexos, por definição, envolve interesse e atração, a pergunta "homens e mulheres podem ser somente amigos?" é relevante! Inclusive porque a presença de membros do sexo oposto perto do parceiro (a) de alguém costuma disparar ciúme e trazer desentendimento e tensão entre os casais. Buscar o fundamento dessa reação é muito importante para uma boa orientação em tais questões. 

Levando-se em conta que, como espécie social, somos fundamentalmente dependentes de contatos e suporte sociais, podemos nos perguntar se há vantagens específicas de se ter um(a) amiga(o) de outro sexo. Segundo Buss (2003), sim: a amizade do sexo oposto tem algumas vantagens específicas (além das comuns em todo contato social): 

- Para as Mulheres: proteção em caso de necessidade (válido para outros primatas), informação sobre o outro sexo e aumento da autoestima e 

- Para os Homens: companhia, informação e contatos com prováveis futuras parceiras. 

Mas, qual é o peso e a importância do sexo na amizade?

Há uma grande e interessante diferença entre os sexos na resposta a estas questões. 

Segundo April Bleske-Rechek (2001):

- os homens em sua quase totalidade avaliam a possibilidade de a aproximação de uma amiga oferecer oportunidade de acesso sexual, já as mulheres não dão peso a esse fator. 

- os homens expressam o dobro de atração sexual pelas amigas que as mulheres pelos amigos e a intensidade desse desejo também é o dobro (esse interesse não mostrou qualquer correlação com o fato de que o homem tivesse ou não comprometido com outra mulher). 

Ou seja, segundo esses dados, podemos dizer que há um forte e consistente interesse dos homens pelas amigas como parceiras sexuais (algo em torno de 100%), o que não é consistente com a posição das mulheres para com seus amigos. Isso, em si, já é uma forte promessa de conflito, uma vez que apenas 20% das mulheres declararam ter relações sexuais com amigos (pouco para tanta "esperança" masculina, mas suficiente para encorajar, aparentemente...). 

Mas, há fatores agravantes: as mulheres tendem a subestimar o grau de atração sexual de seus amigos (atribuindo notas muito menores do que eles a esse atributo). Por outro lado - isso também é clássico - os homens tendem a pensar que as mulheres estão muito mais interessadas neles do que na verdade estão! Isso leva a falsas percepções que criam muitos desentendimentos... Ainda: os homens têm 62% mais chance do que as mulheres de terminar uma amizade que não vai resultar em sexo e 65% mais chance de terminar uma amizade por falta de atração. E o que é pior: muitas vezes há finais 'briguentos' para esses conflitos de interesse, havendo rompimento e tensão social. 

Disso tudo, na prática, alguns conselhos parecem surgir:

-Para as Mulheres: avalie com cuidado, segundo seus interesses, os sinais e intenções dos homens que oferecem "amizade" e envie sinais claros de que é amizade o que deseja (os homens fazem confusão facilmente a esse respeito), se for o que deseja, obviamente... 

-Para os Homens: avalie com cuidado os sinais das mulheres que você "pensa" que estão a fim de você, pois os homens confundem muito isso (não "pague mico"). Seja claro e honesto (ao menos com você mesmo), sobre seus objetivos. 

Ou seja, aproveitem as vantagens de se ter amizades do outro sexo sem criar situações embaraçosas e muitas vezes com desfechos indesejáveis, como crises de ciúme ou rompimento de relações de amizade, que poderiam ser agradáveis e proveitosas. Isso é especialmente importante em um mundo com tantas e rápidas conexões: precisamos nos adaptar aos tempos modernos! Até nisso...**** 

Bleske-Rechek, April . Opposite-Sex Friendship: Sex Differences and Similarities in Initiation, Selection, and Dissolution. Pers Soc Psychol Bull October 2001 vol. 27 no. 10 1310-1323. 

BUSS, David. M. The Evolution of Desire: Strategies of Human Mating. 2. Ed. New York, BasicBooks, 2003. 

Nota: "Este artigo é de responsabilidade do autor do texto e não da ABMP ou do CEAAP". 

 

(*) João Paulo Correia Lima - Psicólogo – CRP/06-14516

Membro e Diretor Científico da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática – Nacional. Professor convidado da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática. Pós graduado em Psicologia – USP. Área de Neurociência – linha de pesquisa de Neuroimunomodulação. Ex-integrante do G-NiM, Grupo de Neuroimunomodulação da USP -Depto. De Patologia Experimental e Comparada da FMZV-USP. Professor de Psicologia Clínica - FAAT.

 

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